Este espaço, quilombo eletrônico é uma Arma.
Uma berro, aos berros para chamar a atenção de nossa inércia cotidiana.
Aqui , desfilaremos textos, sons e imagens que nos façam remexer o espírito.
Aqui não é palco de luta. Palco de luta são as ruas.
Mas aqui poderemos dar corda às nossas frustrações. Poderemos falar, cortar esse sufoco que nos arrebenta.
Na boa Dom?
Estamos tão controlados e controladas,
Que essa matança em massa ai fora não nos movimenta pra nada.
Abrem-se cadeias na Bahia e todo mundo em silencio fazendo o relatório do financiamento.
Morrem meninos e meninas num padrão vil de genocídio e a gente faz seminário fingindo que não é com a gente.
De boa.
Aqui é pra se falar na lata!
Aos berros!
O que se quer....

quinta-feira, 25 de março de 2010

Continuamos Entrincheirados: 3 anos da morte do Negro Blul (Clodoaldo Souza)

Salve Negro Blul, meu parceiro.
Suave, nego?
Estive nesses dias em São Paulo, com o Akins Kintê. Parceiro firmeza de caminhadas pelas quebradas de lá. Lá,Negro Blul, é o berço do Rap nacional. Você amava o Rap ,Blul, por isso minha mensagem nesse ano vai margeando alguns versos nascidos nas ruas. Eu amo São Paulo, pelo seu mistério e seu frio permanente, pelo seu porte e pela gente que ali vive. A gente preta, a gente que faz da poesia uma coisa simples e maloqueira, com gosto de brisa, e ainda faz barricada. Mesmo ante a cavalgada fascista que ronda as cidades, eu amo a poesia e amo São Paulo. Lembra desses versos Blul, do Mano Brown ?
"porque o guerreiro de fé nunca gela,Não agrada o injusto, e não amarela,O rei dos reis, foi traído, e sangrou nessa terra,Mas morrer como um homem é o prêmio da guerra, Mas óh, Conforme for, se precisar, afogar no próprio sangue, assim será, Nosso espírito é imortal, sangue do meu sangue, Entre o corte da espada e o perfume da rosa, Sem menção honrosa, sem massagem."A vida é loka nêgo, E nela eu tô de passagem.”
É como um acorde leve de Sérgio Vaz, uma explosão rítmica de Gog, é poesia enquanto armadura, é balsamo nas madrugadas sem vinho.
Suave, Blul.
É a melodia de Akins Kintê que eu mastigo pela tela de um computador que me encara:
“o que fizemos por serra da barrigao dobro façamos por nossa comunidadese não rola relaxa marcha e sigafaçamos de nosso coraçãoum quilombo uma naçãouma serra da barriga”
Perdoe Blul,
Passei batido pela data em que te abateram na Estrada Velha do Aeroporto. Minha missão é simples: não deixar que esqueçam seu martírio. 1º de março de 2007, eu marco sempre o tombo de seu corpo sobre o asfalto ensangüentado de tanto corpo preto vitima do extermínio.
Por aqui nenhum avanço. Parece que seu caso tá arquivado. Depois de você uma multidão de pretos mergulharam pelo barro dos cemitérios da cidade: tiros pelas costas, pelas nucas,sem chance de defesa, abatidos por ordens superiores de mais gente de olhos azuis. Gatilhos puxados pelos dedos do Estado, comunidade em estado de guerra, ativistas versando sobre desgraça em coquetéis da hora , números e “um troco” captado pra fazer relatório. Tudo antigo, Blul, e o ódio circulando em nossas veias.
Nas masmorras, entre grades e as escabioses, tuberculoses e abandono, prisioneiros somam em suas marcas o estigma de explodir essa cidade, e morrem encarcerados sem nenhum protesto. São os monstros eleitos pelo “cabeça branca” que não mudou em nada a gestão de uma Bahia racista. Cabeça branca...nossa sina!
Conte os pretos do primeiro escalão desse governo de poucos e diga-me quem se equivoca nessa história. Conte os corpos tombados pela Operação Saneamento I e II. Faça a conta!
Os massacres se sucedem Blul, em Cana Brava, em Vitória da Conquista, em Pau Miúdo, Pero Vaz. A polícia tem licença pra matar e o silêncio se acelera em ano eleitoral.
“ Ação se não revolução vira moda”
Como fala meu parceiro e irmão GOG que me orgulha pela conduta. Eu afirmo também: compromisso, se não lutar vira negócio; respeito, se não militância vira farra;memória, se não a desgraça se repete.
E eu não preciso mais de mártir, Blul, já me basta escrever a cada ano em sua lápide e esperar que a cura ilumine essa cidade.
Paz, justiça e liberdade.
Suave, nego
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